Os meios de comunicação chegaram a um grau de capilaridade tão grande que quase todas as pessoas podem ver mestres de reconhecimento nacional, e até mundial, jogando a Capoeira Angola. Observe atentamente um Mestre Moraes, um Mestre Augusto Januário, um Mestre Jogo de Dentro, um Mestre Lua de Bobó e muitos outros que são bons exemplos de que atualmente há uma ginga específica para a Capoeira Angola.
A ginga a que me refiro se caracteriza pela transferência periódica do peso do corpo para a perna de trás. Desde que eu “descobri” – na verdade não fui eu - e divulguei essa especificidade da ginga da Capoeira Angola como movimento fundamental, milhares de pessoas já entraram em contato com esse conhecimento através de meu vídeo. Não peço, repito, que apenas acredite em mim, pode duvidar à vontade, mas vá pesquisar, observe bem e tire suas próprias conclusões.
É claro que os grandes jovens mestres da Capoeira Angola, compromissados até o pescoço com suas próprias idéias de tradição, e que as vem cultivando há anos, não vão chegar aqui e dizer: beleza, Fernando! - Obrigado por nos mostrar algo que fazíamos há décadas, mas que não conseguíamos descrever em palavras. Não se pode esperar isso deles.
O fato é que como Capoeira Angola se tornou um ramo de negócio, alavancado pela força de certa ideologia que exige divisão do trabalho, haverá um momento, creio, em que todos descobrirão que é mais rentável especificar bem os conteúdos de ensino do que mantê-los envoltos em misteriosas e supostas pesudo-filosofias afro. Aí sim, terá de se caracterizar bem o que é entendido por Jogo de Capoeira Angola e, finalmente, poderão aproveitar esta minha contribuição. (Ou refutá-la utilizando argumentos válidos, coisa que até o momento não aconteceu).
domingo, 31 de maio de 2009
sábado, 30 de maio de 2009
Uma questão dos valores
A maneira como se expressa verbalmente a maioria dos angoleiros e angoleiras que conheci tanto ao vivo quanto em debates na Internet, sugere que basta você praticar Capoeira Angola com um mestre verdadeiro, ou seja, um que descenda de alguma linhagem de Capoeira Angola, basta isso para que você esteja protegido pelo manto da justiça social e de suposta sabedoria milenar africana. Repito que assim parece pela maneira de se expressar da maioria dos angoleiros e angoleiras que conheci.
Acreditar que determinada prática com determinadas pessoas por si só já proporciona o conhecimento verdadeiro, nada mais é do que fanatismo ou, no mínimo, sectarismo exacerbado, para não dizer burrice mesmo. É claro que, em sendo amplo o espectro e a profundidade do conhecimento do mestre, melhor para os alunos e alunas.
E é claro, também, que a prática em si proporciona muita coisa em termos de desenvolvimento pessoal baseado no desenvolvimento do corpo, coisa de que se vale, inclusive, a própria Educação Física para justificar sua especificidade enquanto possível disciplina autônoma no campo da Educação. Todavia, o conhecimento precisa ser construído pela pessoa que treina. E essa construção requer parâmetros de vida, valores sobre os quais a pessoa possa erigir seu saber. Esses valores não dependem do estilo de jogo que a pessoa pratica nem são propriedades exclusivas dos mestres da Capoeira Angola. Falo da liberdade, da preservação da vida, da busca pela verdade, enfim, dos valores universais do ser humano.
Quando se fala em valores, porém, o cuidado maior deve ser o de drenar os conteúdos ideológicos. Isto porque muita coisa que é conhecida como valor moral ou valor cultural nada mais é do que reverberação da ideologia reinante, a ideologia dos que estão no poder de fato, daqueles que detém a maior parte dos valores econômicos do país.
A maioria das pessoas nem percebe que boa parte de seus valores lhes são impostos pela minoria economicamente dominante. Quando um mestre angoleiro cria um grupo e se coloca como presidente ou dirigente plenipotenciário e perpétuo desse grupo ou quando, ainda, esse mestre se atribui a capacidade de ser o que sabe enquanto os demais ele tenta colocar ou se assumem como os que não sabem, nestes casos, de modo semelhante ao que ocorre na escola formal, nada mais se está fazendo do que reproduzir e ajudar a perpetuação do sistema que gerou e manteve a escravidão no Brasil até os dias de hoje, se bem que atualmente ela, em geral, é disfarçada.
Então, não se enganem, meus queridos leitores e minhas queridas leitoras. Não há prática de Capoeira Angola ou qualquer outra que leve por si só à justiça social, ao reconhecimento e aceitação mútua das diferenças, enfim, à ética universal do ser humano, não. As pessoas que conduzem os treinos, como educadores que são, carregam a maior parte da responsabilidade por fazer da arte Capoeira uma disciplina centrada naquela ética. Ao que parece, toda a Capoeira, inclusive a Angola, está inserida no sistema capitalista com armas e bagagens, ou seja, prevalece a concorrência de todos contra todos e fala mais alto o dinheiro, busca-se o monopólio do saber e da linhagem, mas não se dá a menor atenção à necessidade de apoiar os mestres mais antigos para que eles não morram à míngua.
Acreditar que determinada prática com determinadas pessoas por si só já proporciona o conhecimento verdadeiro, nada mais é do que fanatismo ou, no mínimo, sectarismo exacerbado, para não dizer burrice mesmo. É claro que, em sendo amplo o espectro e a profundidade do conhecimento do mestre, melhor para os alunos e alunas.
E é claro, também, que a prática em si proporciona muita coisa em termos de desenvolvimento pessoal baseado no desenvolvimento do corpo, coisa de que se vale, inclusive, a própria Educação Física para justificar sua especificidade enquanto possível disciplina autônoma no campo da Educação. Todavia, o conhecimento precisa ser construído pela pessoa que treina. E essa construção requer parâmetros de vida, valores sobre os quais a pessoa possa erigir seu saber. Esses valores não dependem do estilo de jogo que a pessoa pratica nem são propriedades exclusivas dos mestres da Capoeira Angola. Falo da liberdade, da preservação da vida, da busca pela verdade, enfim, dos valores universais do ser humano.
Quando se fala em valores, porém, o cuidado maior deve ser o de drenar os conteúdos ideológicos. Isto porque muita coisa que é conhecida como valor moral ou valor cultural nada mais é do que reverberação da ideologia reinante, a ideologia dos que estão no poder de fato, daqueles que detém a maior parte dos valores econômicos do país.
A maioria das pessoas nem percebe que boa parte de seus valores lhes são impostos pela minoria economicamente dominante. Quando um mestre angoleiro cria um grupo e se coloca como presidente ou dirigente plenipotenciário e perpétuo desse grupo ou quando, ainda, esse mestre se atribui a capacidade de ser o que sabe enquanto os demais ele tenta colocar ou se assumem como os que não sabem, nestes casos, de modo semelhante ao que ocorre na escola formal, nada mais se está fazendo do que reproduzir e ajudar a perpetuação do sistema que gerou e manteve a escravidão no Brasil até os dias de hoje, se bem que atualmente ela, em geral, é disfarçada.
Então, não se enganem, meus queridos leitores e minhas queridas leitoras. Não há prática de Capoeira Angola ou qualquer outra que leve por si só à justiça social, ao reconhecimento e aceitação mútua das diferenças, enfim, à ética universal do ser humano, não. As pessoas que conduzem os treinos, como educadores que são, carregam a maior parte da responsabilidade por fazer da arte Capoeira uma disciplina centrada naquela ética. Ao que parece, toda a Capoeira, inclusive a Angola, está inserida no sistema capitalista com armas e bagagens, ou seja, prevalece a concorrência de todos contra todos e fala mais alto o dinheiro, busca-se o monopólio do saber e da linhagem, mas não se dá a menor atenção à necessidade de apoiar os mestres mais antigos para que eles não morram à míngua.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
O corpo como foco do interesse
Há quem considere que o movimento do corpo é o que menos importa na compreensão do Jogo da Capoeira Angola. Alguns falam de uma filosofia da Capoeira Angola, sem dizer, naturalmente, as idéias que comporiam essa tal filosofia. Digo naturalmente porque os que bramam contra a colocação do movimento como foco do Jogo da Capoeira Angola e falam de suposta e genérica filosofia, geralmente, não têm idéia do que se trata, nem da filosofia, nem da importância do movimento para a vida. Alguns até conseguem esboçar um arremedo de princípio filosófico quando citam o necessário respeito à ancestralidade. Mas mesmo aí ainda falta foco, pois o respeito à ancestralidade, embora necessário e pertinente, não é específico dos angoleiros e angoleiras.
É preciso tomar muitos cuidados, porém. Quando preconizo uma volta ao movimento do corpo como foco das atenções, como modo de fundamentar a caracterização do Jogo de Capoeira, no caso, a Angola através da ginga, não estou incitando meus queridos leitores e leitoras à burrice. O jogo da Capoeira compõe o quadro formativo da nação Brasil. Como tal está a requerer abordagens de todas as áreas do conhecimento. Sempre, porém, tendo presente que a Capoeira se expressa pelo movimento do corpo humano e que o movimento fundamental dela é a ginga e que, então, é por esta que se pode classificar o estilo de jogo.
Como sou pessoa comum, nunca estou na parca mídia da Capoeira, e como os grandes mestres da Capoeira Angola, por desconhecimento ou malícia – dou esta chance a eles - tendem a não reconhecer em palavras, vale dizer, na teoria, a ginga como movimento fundamental e caracterizador do estilo de jogo, então, meus leitores e minhas leitoras, vocês naturalmente tenderão a me deixar esquecido e até a não levar em consideração o que escrevo. Nada disso me aborrece ou me deixa triste, não. O que me deixa triste é quando alguém, mestre ou aluno ou aluna, está tão confortável em suas certezas que não quer nem experimentar, nem observar o modo como gingam os azes da Capoeira Angola: transferindo o peso do corpo para a perna de trás.
Como mestre de Capoeira que sou, eu poderia ir treinar minha ginga no meu cantinho e deixar que cada uma mercê de suas próprias descobertas. Não o faço porque senti na pele, durante 25 anos, a dificuldade em compreender, afinal, o que distinguia o jogo dos angoleiros dos jogos de outros estilos. A partir de agora e após o advento do Youtube e similares o mistério acabou.
Confira você mesmo!
É preciso tomar muitos cuidados, porém. Quando preconizo uma volta ao movimento do corpo como foco das atenções, como modo de fundamentar a caracterização do Jogo de Capoeira, no caso, a Angola através da ginga, não estou incitando meus queridos leitores e leitoras à burrice. O jogo da Capoeira compõe o quadro formativo da nação Brasil. Como tal está a requerer abordagens de todas as áreas do conhecimento. Sempre, porém, tendo presente que a Capoeira se expressa pelo movimento do corpo humano e que o movimento fundamental dela é a ginga e que, então, é por esta que se pode classificar o estilo de jogo.
Como sou pessoa comum, nunca estou na parca mídia da Capoeira, e como os grandes mestres da Capoeira Angola, por desconhecimento ou malícia – dou esta chance a eles - tendem a não reconhecer em palavras, vale dizer, na teoria, a ginga como movimento fundamental e caracterizador do estilo de jogo, então, meus leitores e minhas leitoras, vocês naturalmente tenderão a me deixar esquecido e até a não levar em consideração o que escrevo. Nada disso me aborrece ou me deixa triste, não. O que me deixa triste é quando alguém, mestre ou aluno ou aluna, está tão confortável em suas certezas que não quer nem experimentar, nem observar o modo como gingam os azes da Capoeira Angola: transferindo o peso do corpo para a perna de trás.
Como mestre de Capoeira que sou, eu poderia ir treinar minha ginga no meu cantinho e deixar que cada uma mercê de suas próprias descobertas. Não o faço porque senti na pele, durante 25 anos, a dificuldade em compreender, afinal, o que distinguia o jogo dos angoleiros dos jogos de outros estilos. A partir de agora e após o advento do Youtube e similares o mistério acabou.
Confira você mesmo!
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