Conversa com o mestre

Olá, mestre!

Gostaria de conversar e debater sobre um vídeo seu na internet. Entendo que foi um vídeo de visões didáticas do entender seu e de seu grupo. Todavia, assim como: “as palavras saem da boca e tomam sentidos próprios”, a internet também permite interpretações.

O vídeo referido é este:
http://br.youtube.com/watch?v=lkYwKHMRB4E

Nada tenho contra as competições de capoeira, nem tampouco o sistema federativo. Coisa dos tempos atuais há de se relativizar. Mas, há divergência de alguns conceitos seus.

Bom, as considerações são as seguintes:
O vídeo enfatiza na narrativa primeira sobre “competições oficiais do sistema desportivo da capoeira”. Ok, Federações, etc... Tranqüilo. Também coloca em xeque a “caracterização do jogo de angola por meio de movimentos”. E, faz a ressalva, que não é a única diferença. Também afirma na narrativa que é uma “maneira” de ver. Logo, não afirma como verdade. O referido vídeo na sua forma de expressar afirma sobre a diferença do jogo de angola de “outros estilos”. E comenta sobre “chamada” e “passo a dois”.

E como mola mestra à afirmação de que a “ginga” é o movimento fundamental e que seria uma forma de caracterizar nos termos do que debatemos. A “distinção fundamental”. E, o vídeo enfatiza, que em “aceitando” este elemento como diferencial – a ginga – o conjunto dá o enfoque.

Falo eu...(ou me meto...)
As competições de capoeira são, por si só, polêmicas. Não é este o mérito. O oficial e o desportivo têm relação com a visão federativa e esportivizada da capoeira. Ok. Como o que é “oficial” deve ter “regras e normas” (senão gringo não entende) para unificar e/ou padronizar, referenciar podemos também interpretar que não é nem capoeira, quiçá angola. Entendendo que há sim de se referenciar para campeonatos no sistema federativo, vejo por outro ângulo, que é impossível caracterizar uma questão subjetiva como esta. Mas, minha preocupação maior é quando o elemento “ginga” é usado para esta diferenciação.

Na minha visão a ginga sequer é movimento de capoeira. A ginga, na minha concepção, é herança do batuque, que, por sua vez, influencia a regional. Este sim, estilo. Capoeira “regional” é estilo. Angola, não é estilo! (Pra entender como penso). Entendo que para “traduções” contemporâneas é aceitável.

Uma pergunta pessoal: Gostaria que me definisses e caracterizasses “chamada” e “passo-a-dois”. Me intrigou esta diferenciação. Se existe uma, ambos ou interpretações. Também gostaria de saber, no seu entender, quais são os “estilos” de capoeira. E, se possível me definir!

E na movimentação que observei quase nada de “angola” vi ali. Primeiro, que angola (no meu entender) assim como a regional parte de movimentos ligados de ação e reação, independente do toque (cadência). A ginga consiste em um anteparo para o capoeira e num subsídio pedagógico contemporâneo a partir do advento de Bimba.

Os movimentos que vi são traços de “senzala” anos 70 com movimentos em
desuso (embora fundamentais) como a cocorinha. Quase um teatro de angola. A pantomima levada a serio. Bom, mestre, gostaria que o senhor debatesse comigo estas considerações.

Um abraço:

***(assinatura)
Não coloquei o nome do Mestre porque ele escreveu-me em particular e não lhe pedi autorização para tal.