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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Por que os grandes mestres não se dão ao trabalho de caracterizar o Jogo da Capoeira Angola?

Outro dia li explicação de um grande mestre Capoeira Angola em que ele tentava convencer o leitor e a si mesmo de que a dificuldade em caracterizar esse estilo de jogo estaria no fato de que à movimentação física precede a filosofia da Capoeira Angola.

Pois bem, se assim fosse estaríamos impedidos de caracterizar quaisquer profissões, pois todas elas são envolvidas por aspectos filosóficos e culturais, por ideologias, interesses. E, gente, vou dizer claramente para vocês o que penso dessa resistência de algumas pessoas em não por mãos à obra para especificar, tim-tim por tim-tim o que é um jogo de Capoeira Angola: simples desconhecimento das possibilidades da profissiografia. Isto quando não se trata de interesse mercadológico-comercial aliado à mentalidade tacanha, corporativista ou semelhada.

No último caso trata-se de criar aura de mistério em torno de algo simples e popular, de tal sorte que nos convençamos de que apenas pequeno grupo de pretensos sábios podem dominar a matéria. Daí, se um de vocês quiser conhecer os supostos segredos da Capoeira Angola, terá de pagar diárias, passagens e cachês que vão subindo na medida de fama e esperteza do mestre. Aliás isso é coisa comum a todas as profissões no sistema em que vivemos.

Todavia, tenho preferido o entendimento de que a profissiografia é desconhecida para os grandes mestres da Capoeira Angola, como é desconhecida para as pessoas que encontramos em nosso dia a dia.

Alguém há de perguntar: e esse bacana aí, de onde ele tirou essas idéias? respondo: a da análise profissiográfica veio dos meus tempos de funcionário público, 1970 ou 1971, no antigo INPS em Ourinhos-SP, onde trabalhei com o Sr. Waldemar João Degobi, Dona Zeni, Dr. Raul, Massaioshi e alguns outros e outras cujos nomes me fogem da memória, mas as imagens me permanecem no coração. Lá era necessário caracterizar bem acidentes e doenças oriundas do trabalho, e foi lá que aprendi que qualquer profissão pode e deve ser descrita e distinguida claramente uma da outra. Posteriormente, em 1980 cursei todas as disciplinas da graduação em Psicologia dirigindo meu interesse para a área do trabalho e em 1985, obtive alguns créditos para mestrado em administração de recursos humanos na UnB, através de uma especialização lato senso na FUNCEP. Além disso, trabalhei na área de recursos humanos do Banco Central do Brasil em Brasília no período de 1975 a 1988.

Então, não pensem, por favor, que defendo a possibilidade de caracterização do Jogo da Capoeira baseado meramente na minha experiência como capoeirista não-angoleiro, que sou desde 1980, tendo aprendido meus primeiros passos pelas mãos do Mestre Hélio Tabosa. Não há como fugir, também, do fato de que tendo arbitrado vários campenatos estaduais aqui no Pará e vários campeonatos brasileiros, além de ter feito cursos de filosofia da Capoeira dentro do Sistema Desportivo, isto me proporciona ferramental teórico suficiente para minhas afirmações.

Voltando ao ponto, não tenho tido tempo de colocar aqui todos os meus pensamentos a respeito da caracterização, mas posso adiantar que é possível sim caracterizar nitidamente um jogo de Capoeira Angola, diferenciando-o de outros estilos. E isto começa pelo movimento fundamental, repito, a ginga.

A propósito desse assunto, criei uma espécie de teorema que pode ser descrito assim: duas pessoas brincam de jogar Capoeira na praia. Estão de roupa de banho, não há instrumentos, cânticos, nem outras pessoas. Como saber se jogam no estilo Angola ou não-Angola? Resposta: pela ginga.

Como eu já disse, há outros aspectos, e agora acrescento, claros e objetivos, que permitem distinguir claramente um jogo de Capoeira Angola dos de outros estilos, mas o fundamental é a ginga.